segunda-feira, 4 de maio de 2009

Quando a noite cair

A fotografia era em preto e branco, uma rua vazia, as flores caídas ao chão, o vento acabara de passar, nem mesmo chovera. O vento sempre vai embora e leva uma pequenina parte de mim. A minha rua sempre fica vazia quando o vento vem, e vai, e leva algo de mim. Leva você, no frio, que sai todo agasalhado logo pelo manhã. Assim que acordo e sinto cheiro de café fresco, me viro na cama e procuro você, o vento já te levou. Te levou e deixou seu beijo de bom dia no meu pescoço, te levou e deixou seu cheiro no quarto. Para que quando eu entrasse, o seu cheiro penetrasse no meu corpo e fizesse a saudade crescer dentro de mim. Sobe pelas minhas pernas um frio e uma vontade louca de te trazer de volta. Para poder tirar todo o seu agasalho e te esquentar e me esquentar somente com os nossos corpos. Mas o vento te levou, nem sei se você sente isso que eu sinto, se dói em você me dar um último beijo e sair. Aqui dentro é tudo mais quente, e a rua vazia não faz o menor sentido. Muito menos a fotografia em preto e branco. Somente quando você está aqui, porque quando o vento te leva, aí assim, faz sentido. Aí sim a fotografia em preto e branco e a rua vazia faz completo sentido. Parece que quando o vento te leva, leva muita coisa com ele. Deixa vontade, só isso ele deixa. Uma vontade louca de te ter comigo, e de deitar na cama com os lençóis brancos tão lisos e macios com você, de sentir o seu corpo tão junto do meu, como se fossemos um. A noite logo vem, a minha vontade fica maior. Então escuto as chaves na porta, os seus pés no chão de casa, o seu cheiro logo passa pela casa inteira até chegar em mim. E aí você trás de volta a cor da fotografia e trás o seu sorriso que me enche de uma tal esperança que não consigo entender. Então a minha vontade acaba e minha saudade cessa. A noite eu durmo bem, só por que tenho sua respiração no meu pescoço. Amanhã o vento te leva de novo, e mal posso esperar para que a noite caia.

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